O Papa Francisco disse,
durante o encontro com
jornalistas, na semana de sua
eleição como Sucessor do
Apóstolo Pedro, que a Igreja
deve ser, especialmente, dos
mais pobres. Esse é o desejo
mais profundo do coração de
Deus. Jesus, na admirável
passagem sobre o juízo final,
narrada em parábolas pelo
evangelista Mateus,
sublinhou: “Todas as vezes
que fizestes isto a um destes
meus irmãos pequeninos, foi
a mim mesmo que o
fizestes” (Mt 25, 40). Jesus
deixa, assim, uma clara lição
aos seus discípulos, que deve
ser sempre assumida pela
Igreja como importante
compromisso.
O Concílio Vaticano II, na
Constituição Pastoral
Gaudium et Spes, afirma que
“as alegrias e esperanças, as
tristezas e as angústias dos
homens de hoje, sobretudo
dos pobres e daqueles que
sofrem, são também as
alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos
discípulos de Cristo; e não há
realidade alguma
verdadeiramente humana
que não encontre eco no seu
coração”. Assim, a voz do
Papa Francisco, fazendo
ecoar este desejo e sonho de
Jesus, reacende no coração
da Igreja a chama da opção
preferencial pelos pobres.
Essa opção, na sua força
espiritual e suas
consequências concretas na
vida e nos empenhos, é um
indispensável remédio que
modula a Igreja, povo de
Deus, comunidade de
discípulos com as orientações
de seu Mestre e Senhor.
'Gesto primeiro e permanente
é contemplar os rostos dos
sofredores que doem em nós',
sublinha o Documento de
Aparecida, fruto da 5ª
Conferência dos Bispos
Latino-Americanos e
Caribenhos, focalizando as
pessoas que vivem nas ruas
das grandes cidades, as
vítimas da violência familiar,
os migrantes, os enfermos, os
dependentes de drogas,
encarcerados, os que
carregam o peso e as
consequências da
discriminação, preconceitos,
falta de oportunidades, além
dos excluídos da participação
cidadã. O Papa Francisco,
que esteve presente e
participou de maneira
decisiva da 5ª Conferência,
convida a Igreja a viver o
pacto ali assumido e assim
detalhado no Documento de
Aparecida: “comprometemo-
nos a trabalhar para que a
nossa Igreja Latino-
Americana e Caribenha
continue sendo, com maior
afinco, companheira de
nossos irmãos mais pobres,
inclusive até o martírio”.
Francisco indica um caminho
que para ser percorrido, com
eficácia, precisa de vigor
espiritual, de coragem, da
profecia e da alegria
verdadeira que só brota no
coração de quem
compreende bem o desejo de
Deus. A Igreja está, pois, pela
palavra e gestos do Papa, a
revisitar os tesouros da fé
cristã, banhando-se neles
para alcançar uma
compreensão espiritual capaz
de conferir novos rumos à
vida pessoal, organização
eclesial e à sociedade. Uma
via que deve se concretizar
com o modelo da
globalização da solidariedade
e justiça internacional. Esse
compromisso nascido da fé
em Jesus Cristo irradia luz
sobre o caminho renovador
que a Igreja é chamada a
trilhar, com kººº oooforça e tarefa
de inspirar a sociedade a
Lfazer novas escolhas,
responsável que ela é
também pelos pobres da
Terra.
A simplicidade que emerge
de uma Igreja para os pobres
há de alcançar raízes que
tocam o mais profundo das
diversas organizações sociais,
exigindo mais transparência,
singularmente na conduta
pessoal e a coragem de uma
presença profética na vida
dos necessitados, nas
relações sociais e políticas.
São urgentes as ações na
configuração de projetos,
obras, diálogos, cooperação e
comprometimentos que
construam um rosto novo
para a sociedade
contemporânea, sem as rugas
das exclusões produzidas ou
das corrupções praticadas.
Que a Igreja renove sempre
sua opção preferencial pelos
pobres, realizando projetos
grandes ou pequenos, de
menor ou maior significação,
para reencontrar o ouro de
sua fé e os caminhos para
que ninguém sofra da mais
terrível pobreza: a distância
de Deus. Contemplar-se
como Igreja para os pobres é
viver uma recuperação
pujante, revisão humilde e
corajosa de atitudes, no
compromisso com o bem e
com a verdade, anunciando o
Reino de Deus. O broto de
esperança desse tempo
guarda potencial inesgotável
para a novidade da Igreja de
Cristo, no cumprimento de
sua missão ampla e
complexa, de ser dos pobres
para os pobres.
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo
Arcebispo metropolitano de
Belo Horizonte (MG)