segunda-feira, 25 de março de 2013

Semana Santa: "Deus não se cansa de perdoar"

Celebramos ontem, 24, o
Domingo de Ramos, também
chamado de Domingo da
Paixão, quando iniciamos a
Semana Santa; tempo único
durante o ano para parar,
contemplar e recomeçar um
caminho a exemplo de Jesus.
Eu chamo esta semana de a
“grande semana do perdão”.
O perdão de todas as nossas
falhas, a vida nova
conquistada na Paixão, morte
e ressurreição do Senhor
Jesus.
Estes fatos aconteceram
porque temos um Deus que
nos ama, que tomou por
primeiro a iniciativa de nos
resgatar da miséria humana e
nos cobrir para sempre com a
Sua infinita misericórdia. Por
isso é uma semana especial,
um tempo que revivemos a
cada ano, não como fatos do
passado e sim como
atualização aqui e agora da
presença de Deus que
continua salvando a cada um
de nós, criaturas feitas a Sua
imagem e semelhança.
Ao contemplar o Pai Deus
que em seu Filho Jesus nos
ama perdoando e nos perdoa
amando, nos chama para
realizar aqui e agora a
mesma realidade do amor
perdão entre nós humanos.
Sem merecimento fomos
perdoados por um Deus tão
humano e próximo de nós.
Por que somos tão
mesquinhos em negar o
perdão ou ficar guardando
rancor e raiva de quem com
motivos ou não nos feriu em
nossos sentimentos?
Nas nossas relações humanas
nunca se deve buscar
culpados e sim estabelecer
relações verdadeiras, no
amor desinteressado,
construindo o que nos
aproxima e nunca o que nos
divide.
Nesta semana os fatos que
vamos reviver começam na
quinta-feira às 9h30 na
Catedral com a missa da
benção dos óleos do crisma,
do batismo e dos enfermos.
Na presença de todos os
presbíteros, os quais renovam
nesta missa os compromissos
presbiterais, pois foi na
quinta- feira que Jesus
instituiu a Eucaristia e o
presbiterato.
Esta celebração marca o
início de todos os fatos de
nossa salvação. À noite, em
todas as igrejas, haverá
celebração da Ceia do
Senhor com o lava pés.
Relembrando aquele gesto e
aquelas palavras de Jesus:
“Se eu Mestre e Senhor
lavei-vos os pés, vos deveis
lavar os pés uns dos outros”.
Naquela memorável noite
Jesus deixa a sua presença
nas espécies de pão e vinho
dizendo: “Isto é meu corpo,
isto é meu sangue, fazei isto
em memória de mim”.
Na Sexta-feira Santa
contemplados a Paixão de
Jesus, às 15h na leitura da
Paixão e nas orações por toda
humanidade. Celebração que
não é a missa; aliás, esse é o
único dia do ano que não
celebramos a missa, mas
distribuímos a Eucaristia,
consagrada na missa de
quinta- feira santa. Sexta-
feira Santa é o dia da morte
do Senhor, quando derrama
do alto da cruz sangue e
água, num grito de salvação:
“Pai em tuas mãos entrego o
meu espírito”.
Contemplamos a cruz,
beijamos a cruz, como sinal
de nosso resgate, como
reconhecimento do imenso
amor de Deus em Jesus por
todos e cada um de nós.
Ninguém como Ele para nos
amar tanto e de tal forma.
Sábado da Vigília Pascal,
abençoamos o fogo, e
acendemos a coluna de cera,
simbolizando a luz de Jesus
que dissipa as trevas e
ilumina a noite do pecado.
Abençoamos a água, vida
nova, nascimento para Deus,
batismo, banho de
regeneração, noite do
aleluia, de um grito de
vitória que culminará na
madrugada de domingo.
Naquela penumbra do
terceiro dia, algumas
mulheres e três apóstolos são
as primeiras testemunhas do
túmulo vazio.
A notícia não parou até hoje.
Continuamos nós também a
proclamar que o Senhor está
vivo. O ressuscitado está no
meio de nós, caminha
conosco, como nos diz o
apóstolo Paulo: “Se Cristo
não tivesse ressuscitado
vazia seria nossa fé”. Essa é
a nossa Páscoa, vida nova em
Cristo Deus que não se cansa
de perdoar.

Fonte: Canção Nova

Como viver a Semana Santa?

Num clima de alegria e
esperança, provocado pela
ascensão ao pontificado
petrino do Papa Francisco,
iniciaremos - no Domingo de
Ramos - mais uma Semana
Santa com a entrada triunfal
de Jesus na cidade de
Jerusalém.
Aí começa uma nova fase na
história do povo de Israel,
quando todos se voltam para
a cena da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus Cristo.
A Semana Santa deve ser um
tempo de recolhimento, de
interiorização e de abertura
do coração e da mente para o
Deus da vida. Significa fazer
uma parada para reflexão e
reconstrução da
espiritualidade, essencial
para o equilíbrio emocional e
segurança no caminho
natural da história de vida
com mais objetividade e
firmeza.
As dificuldades encontradas
não são fracasso nem
caminho sem saída. Elas nos
levam a firmar a esperança
na luta por uma vida sem
obstáculos intransponíveis.
Foi o que aconteceu com
Cristo, no trajeto da Paixão,
culminando com Sua morte
na cruz. Em todo esse
caminho, Ele passou por
diversos atos de humilhação.
A estrada da cruz foi uma
perfeita reveladora da
identidade de Jesus. Ele teve
de enfrentar os atos de
infidelidade e rebeldia do
povo que estava sendo infiel
ao projeto de Deus, inclusive
sendo crucificado entre
malfeitores. Jesus partilha da
mesma sorte e dos mesmos
sofrimentos dos assassinos e
ladrões de sua época.
Na Semana Santa devemos
associar ao sofrimento de
Cristo o mesmo que acontece
com tantas famílias e pessoas
violentadas em nosso tempo.
Podemos dizer da violência
armada, dos trágicos
acidentes de trânsito, das
doenças que causam morte,
do surto da dengue, dos vícios
que ceifam muita gente, etc.
Jesus foi açoitado,
esbofeteado, teve a barba
arrancada, foi insultado e
cuspido. O detalhe principal
é que nenhum sofrimento O
fez desistir de Sua missão
nem ter atitude de vingança.
Ele deixou claro que o
perdão é mais forte do que a
vingança.
Devemos aprender com Ele e
olhar a vida de forma
positiva, sabendo que seu
destino é projetado para a
eternidade em Deus.

Dom Paulo M. Peixoto -
Arcebispo de Uberaba (MG)

VAI E MÃO VOLTE A PECAR

O Evangelho descreve uma
cena dramática: uma mulher
pega em adultério está para
ser apedrejada até a morte.
O Levítico prescreve: “O
homem que cometer
adultério com a mulher do
próximo deverá morrer, tanto
ele como a mulher com
quem cometeu o delito.
Os escribas e os fariseus, que
se dizem justos, são os que
conduzem a mulher até
Jesus. Mas onde está o
homem envolvido no mal?
De fato, a Lei de Moisés
interditava o adultério, como
eles diziam. A pergunta deles
é para colocá-Lo à prova. O
silêncio de Jesus revela o
pecado dos acusadores, os
quais vão se retirando um a
um. No face a face entre a
mulher e Jesus, em que a
verdade de cada um é
iluminada, a palavra de Jesus
liberta, mostra a misericórdia
de Deus e abre um caminho
novo: “Ninguém te
condenou? Eu também não
te condeno! Vai e, de agora
em diante, não peques mais.”
O pecado dos fariseus e dos
homens religiosos de Israel,
em geral, consistia nisto:
condenar os fracos; nesse
caso, uma mulher pecadora,
e eximirem a si mesmos da
culpa e do castigo. Sem nos
apercebermos, constituimo-
nos como juízes e ditamos
sentenças a torto e a direito.
Descobrimos que, no mundo,
quase ninguém é perfeito,
mas pensamos em nosso
íntimo que nós mesmos o
somos. Basta escutar o tom
das críticas, a
autossuficiência das opiniões
que expomos, as “denúncias
proféticas” que emitimos, de
vez em quando, para
descobrir como esse toque
farisaico se aninha em nós.
A solução para tudo isso não
é o “vale tudo”. Jesus não
condenou a mulher, mas não
a deixou ir embora
simplesmente. Convidou-a a
seguir no futuro um caminho
diferente.
Jesus valorizava muito a
fidelidade à aliança. Ele era
um homem de palavra, de
compromisso. A mulher que
estava diante dele havia
rompido a aliança do
casamento, havia se oposto à
vontade do Criador, pois “no
princípio não era assim”.
Jesus sabia também que um
homem – que estava fora do
cenário – havia
compartilhado com ela dessa
ruptura da aliança e que
ambos haviam se
transformado em símbolos de
um povo infiel ao amor de
Deus.
Jesus a convida a um novo
começo. Ele também
descobre outros rompimentos
da aliança entre os
acusadores: “Quem estiver
sem pecado, atire a primeira
pedra.” E escreve no chão
várias vezes. Não sabemos
com certeza plena o que Ele
escrevia. Nesse gesto,
podemos descobrir o dedo de
Deus reescrevendo seu
compromisso de aliança na
areia movediça e frágil das
decisões humanas.
Que o nosso coração se abra
para receber essas lições e
também para nos colocarmos
como protagonistas desta
cena descrita no Evangelho,
a fim de que possamos
aparar nossas arestas.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de
Fora (MG)

A MATURIDADE DA IGREJA

Durante muitos séculos da
História da Igreja, sobretudo
por ocasião dos Conclaves
para eleger o novo Pontífice,
as interferências políticas
dos governos foram brutais.
Reis, imperadores, ditadores
e presidentes procuravam
influenciar diretamente nas
eleições do Papa: “Diga aos
cardeais que o meu
candidato é fulano”, ou
“Informe os eleitores que
não aceitarei como Papa
beltrano” ou ainda “Todos
saibam que a eleição de
sicrano provocará
rompimento com a Santa
Sé”. Com o correr dos
séculos, a Igreja aprendeu a
livrar-se de tais
interferências.
Nos tempos modernos, surgiu
um novo modelo de impor
candidatos: é a pressão
midiática, as pesquisas de
opinião, as casas de apostas,
as declarações de
“vaticanistas”. A intenção de
tais manipulações –
completamente irreais – é
fazer a cabeça dos cardeais
e, assim, colocar, no poder, as
pessoas de seus interesses,
que sigam as linhas de
atuação prescritas pelos
autores.
A eleição do Papa Francisco
veio demonstrar a liberdade
de espírito do Colégio
Cardinalício. Votaram
conforme a sua consciência.
Isso causa em todos os
católicos uma tranquilidade e
segurança quanto à lisura da
escolha.
O caso atual (sem pôr em
dúvida os últimos dez Papas),
comprova que a preocupação
não é a política ou outros
interesses menores. A
preocupação é bíblica: “É
preciso que um deles se junte
a nós para testemunhar a
ressurreição” (At 1,22).
Em outras palavras, o Papa
deve ser alguém que “viu o
Cristo”, e d'Ele dê
testemunho a partir de sua
experiência de vida.
Pelas apresentações até
agora ocorridas, percebe-se
que o Papa Francisco é um
homem de profundo trato
com o “Mestre e Senhor”. É
um homem de fé e oração
simples, até popular.
Os “hermanos” vão permitir
que, numa espécie de fogo
amigo, eu repita o bom
humor da minha roda de
amigos: “Enfim, um
argentino humilde!” Ou
ainda: “É a primeira vez que
se vê brasileiros trabalhando
em favor de um argentino”.
A escolha foi feliz, porque
ele [Papa Francisco] é uma
testemunha autêntica de
Jesus. Embora a idade não
permita atrasos, pela graça
do Espírito Santo ele
produzirá frutos em honra do
Pai.
Pedimos ao Senhor que o
abençoe e ao povo que o
acolha como legítimo
sucessor de Pedro.
Dom Aloísio Roque
Oppermann, scj
Arcebispo Emérito de
Uberaba