sexta-feira, 24 de junho de 2011

O CORPO DE DEUS e os “corpos” de Cristo

Ser dom para os outros - a Eucaristia que todos entendem...

A propósito do dia do “Corpo de Deus” que acabamos de celebrar apetece-me partilhar o significado que este dia significa para mim e os desafios que a espiritualidade deste “Mistério de Fé”, traz todos os dias à minha vida.

Não é natural em mim escrever sobre o que leio nos livros ou que investigo através de muitos meios de comunicação a que hoje temos acessos. Prefiro falar de “experiências”, dos gestos simples e práticos que uma determinada espiritualidade provoca em mim.

1- Expor-se a Deus que se expõe a nós.

De todas as festas litúrgicas, a do “Corpo de Deus” toca-me sobremaneira porque me fala do núcleo de toda a vida cristã, a Eucaristia como Sacramento de Amor e presença de Jesus Ressuscitado no meio de nós.

Na Eucaristia de cada dia, no silêncio orante e em adoração diante de um sacrário experimento a certeza de que Ele está ali, exposto a mim e me quer tocar pelo amor infinito do Seu coração e se deixarmos esta divina presença eucarística nos vai cristificando e fazendo de nós “Corpo de Cristo” para os outros. Quando reflicto na palavra de Jesus, “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” penso que Jesus se referia a esta presença Eucarística porque como nos lembra o Vaticano II “ela é fonte, cume, centro de toda a vida cristã…tesouro espiritual da Igreja, isto é o próprio Cristo nossa Páscoa”.

2- Eucaristia Escola de Caridade

Mas, se temos a graça de reconhecemos Cristo na fracção do Pão também Ele só nos reconhece quando partilhamos o pão com os nossos irmãos, isto é somos dom para os outros. Dar e dar-se aos irmãos sobretudo àqueles onde está mais “escondida” a presença de Jesus o “Lava-pés” não pode ser apenas um gesto litúrgico mas também uma atitude de vida “estando de joelhos” diante dos irmãos servindo e amando. Celebrar a Eucaristia, adorar Je3us Sacramentado, e não nos darmos aos outros é não ter aprendido nada deste Mistério de Fé e não proclamar a Ressurreição de Cristo com o testemunho de vida

3- Ser corpo de Cristo para outros “corpos” de Cristo

Porque este ano senti o apelo a viver esta festa no aspecto de ser eu, também, “corpo” de Cristo para os outros, a minha procissão do Corpo de Deus passou por caminhar até à casa de uma idosa com Alzheimer que vive sozinha com uma filha que, devido à doença da mãe, não pode sair de casa. Fiquei a tomar conta dela para que a filha pudesse ir á Eucaristia e à procissão onde há tantos anos já não ia. Quando chegou disse-me: “Como me senti bem na Eucaristia e na procissão”. Obrigada por me ter substituído. Senti que Jesus se tornou presente em mim com este gesto.

Fui ainda visitar uma senhora de meia-idade, que durante muitos anos se dedicou à prostituição e que hoje vive sozinha, numa casa sem condições, com 120€ de RSI e paga 75€ de renda de casa. A sua alegria por estar com ela, a sua delicadeza no trato, levou-me a “adorar” Jesus presente neste “corpo” vendido e magoado. Senti que Ele me dizia: “As meretrizes preceder-vos-ão no reino dos céus”

Na visita semanal ao Estabelecimento Prisional procurei, de modo intencional, ver o corpo de Cristo ao olhar para aqueles reclusos como, “corpos de Cristo”, reveladores de infâncias sem amor, marcados pelo sofrimento de vária ordem, que os fez fechar o coração e os punhos. Um deles disse-nos: ”Se não fosse a vossa visita semanal, a dizer-nos que Deus nos ama tal como somos, que para Ele não somos um erro, já me tinha suicidado”.

Na Eucaristia, pão partido para um mundo novo, aprendemos a deixar-nos “comer” como “corpo de Cristo”, pelos outros.

Pelo dom da nossa vida aos mais carenciados, amando, quando humanamente não há razões para amar, pelo nosso serviço, pela dádiva da vida, pela disponibilidade, pela solidariedade e sobretudo pela Caridade, aprendida na Escola da Eucaristia somos alimento para que outros vivam.

Mas atenção: Ninguém nasce sabendo amar. O amor aprende-se. E a escola do “Corpo de Deus” ensina-nos a ser pão partilhado para os “corpos de Cristo” de hoje.

Maria de Fátima Magalhães stj

ECCLESIA


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Numa amizade não cabe mentira

Entre inúmeras maneiras de se viver uma verdadeira amizade, existe uma coisa que não devemos cultivar neste lindo outro que se chama amigo. Um amigo é um ouro de inestimável valor, este recebe esta comparação para obter um também inestimável cuidado. Amigo não se usa para nenhum fim, amigo é um outro eu que me identifico e que conheço, sei de seus gostos e desgostos, guardo seus segredos e com ele posso chorar. Amigo é lágrima conjunta e sorriso que se junta.

Amigo é um camarada que me apóia mas odeia minhas picaretagens.
Não são com artifícios mentirosos que se obtém um amigo, não é repetitivo dizer que mentira é a filha do Inimigo. Por outro lado é imensamente saboroso dizer que é pela verdade que se vive uma amizade, pois Jesus (A Verdade) escolheu ser e nos chamou de amigos. Ele nos aproximou mais de si e como um bom amigo, com sua declaração deu os Seus ombros para que pudéssemos apoiar, seja com as lágrimas ou com aquele baita sorriso que nos faz perder as forças.

No momento que um amigo usa de mentira para com o outro, mesmo com a mais bela intenção, torna-se um inimigo. Com a mentira, a distância se estabelece, afugenta o Amor Philos e mesmo que por um momento de um raio, institui-se o reino maligno. Abrindo espaço para isto, o pior acontece. Amigo não mente, diz a verdade com piedade e unção, mas não foge. Sim para sim e não quando for não, nada mais que isto.

Amigo não são atitudes de promessas vazias ou de discursos, uma amizade se vivencia, assim como Jesus. Como se sabe, Jesus não apenas disse chamei vos amigos como fez várias vezes, ele deixou mandamentos e deu a própria vida nisto.

"chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai". (Jo 15,15)

"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos". (Jo 15,13)

Pedro quando estando com Jesus e a mesmo tempo fora de sua presença, proferiu mentiras querendo talvez agradar seu Amigo. Provou imediatamente a ira de Jesus que o advertiu.

"Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!" (Mt 16, 22)
Um amigo se torna inimigo quando não age com a verdade.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Preservar a identidade da Igreja

A trajetória da Igreja através dos tempos tem sido marcada pelo sofrimento sob os mais diversos aspectos. Aliás, a Cruz estava no seu berço e a acompanha em seu caminhar pela História.

Cada época tem suas características próprias que influenciam ou atingem profundamente a Obra de Cristo, composta de homens que vivem no mundo. Dele recebe estímulos que a fazem progredir na fidelidade ao seu Fundador. No entanto, idéias em voga podem repercutir negativamente na vida eclesial. Entre elas, uma está nas raízes de muitos problemas religiosos: um falso conceito de liberdade.

A atmosfera supostamente liberal que respiramos leva a sociedade à procura da satisfação de seus desejos a qualquer preço. O supremo critério do julgamento deixa de ser a lei eterna, o mandamento de Deus, a Verdade de Cristo proclamada pela Igreja. O que impede a satisfação dos anseios de qualquer natureza deve ser afastado. Essa conceituação do comportamento humano não se restringe ao setor econômico e social. Avassalou as várias dimensões da vida, infiltrando-se perigosamente até no campo da doutrina e da moral.

Nesse clima, o fiel é inconscientemente induzido a substituir pelo próprio arbítrio o Magistério dos legítimos Pastores, que deve zelar pela integridade da Palavra revelada com a autoridade que lhe vem do Senhor (cf. “Dei Verbum”, 10) e ensina, interpreta autenticamente as normas éticas que devem reger a existência e atuação de cada um (cf. “Apostolicam Actuositatem”, 24).

Os princípios que fundamentam a nossa sociedade de consumo também conduzem às deformações no meio religioso. Destroem, no plano sobrenatural, tudo o que exige sacrifício, renúncia, abnegação.

A cultura de nossos dias, impregnada por uma tendência consumista estimula pseudo-valores, modificando radicalmente inclusive padrões de comportamento sexual. Aceitam-se relações pré-matrimoniais, aborto, práticas sexuais sem compromisso com a vida, equiparando situações homossexuais ao matrimônio, este, verdadeira fonte da vida. Há quem postule a comunhão eucarística para pessoas que, nessa matéria, não preenchem as condições requeridas. O controle artificial da natalidade encontra defensores que se auto-afirmam católicos.

Foi alterada a Lei de Deus? Não!

Questiona-se hoje a própria autoridade do Magistério. Essa situação causa profunda confusão entre os fiéis.

Erros graves que se infiltram no próprio Povo de Deus são apresentados como válida interpretação do Concílio Vaticano II, obscurecendo sua autêntica mensagem. As vozes que se levantam em nome da Verdade são por vezes abafadas. Além disso, a doutrina de Cristo contradiz a do mundo: é “a porta estreita”, o “toma tua cruz”, “quem não está comigo, está contra mim”, e tantas outras afirmações meridianas que hoje são deixadas à penumbra.

Outra deturpação muito em voga é a concepção de certas virtudes, como por exemplo, a misericórdia, o amor.

A caridade autêntica conduz à observância das determinações do Senhor e de seus legítimos ministros. O falso conceito tenta justificar as agressões aos mandamentos divinos ou aos representantes do Redentor.

O perdão é a característica do cristianismo. Mas ele é verdadeiro se precedido do arrependimento. Do alto da Cruz o pedido do Salvador teve consequências positivas em favor apenas daqueles que o acolheram, reconhecendo-se pecadores. A perene disposição de perdoar não está em contradição com medidas corretivas, aplicadas com justiça, na certeza de que assim se propiciará a transformação daquele que erra.

“Cristo põe em realce com tanta insistência a necessidade de perdoar aos outros que a Pedro, quando este lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, indicou o número simbólico de ‘setenta vezes sete’, querendo indicar com isso que deveria saber perdoar a todos e a cada um e todas às vezes. É óbvio que a exigência de ser tão generoso em perdoar não anula as exigências objetivas da justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, nem mesmo a misericórdia como sua fonte, significa indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou o ultraje feito. Em todos estes casos, a reparação do mal e do escândalo, o ressarcimento do prejuízo causado e a satisfação pela ofensa feita são a condição do perdão” (Papa João Paulo II, em sua Encíclica “Dives in Misericordia”, 97).

O que ouvimos e lemos referente à verdade cristã constitui um quadro inquietante. Se ele se configurasse fora do rebanho, nada a temer. Contudo, penetrou os umbrais dos templos. Infiltrou-se no redil. Almas boas, muitas vezes ingênuas, confundem o título ou o cargo das pessoas com a autenticidade do ensinamento das mesmas. E aí está o motivo desta advertência: nem tudo que parece ser católico, de fato o é.

Grave problema eclesial de nossos dias é preservar a identidade da Igreja. Para atingir este objetivo, comparemos o que lemos e ouvimos com as diretrizes do Santo Padre e dos organismos que agem em seu nome. Com a colegialidade episcopal, o Bispo assume, mais do que antes, a responsabilidade de preservar a doutrina contra as investidas do erro. Evidentemente, serão muitos os percalços a suportar. Quem for fiel até o fim, alcançará a coroa da glória.

D. Eugênio Card. Sales

Fonte: Veritatis

terça-feira, 14 de junho de 2011

Supremo reconhece direitos de casais do mesmo sexo

Numa decisão histórica no país, os ministros do STF  reconheceram no dia 5 de maio a união estável de casais homossexuais, que passam agora a ter os mesmos direitos civis que heterossexuais.

 Na prática, casais do mesmo sexo poderão adotar filhos, incluir parceiros como dependentes no plano de saúde, fazer declaração conjunta do Imposto de Renda, adotar o sobrenome do cônjuge e receber pensão e herança, entre outros direitos previstos na legislação brasileira. A única restrição continua sendo o casamento civil.

Com essa resolução do Supremo, o Brasil segue uma tendência em voga em outros países democráticos, inclusive na América Latina, de equiparar os direitos civis de heterossexuais aos de homossexuais.

A mudança atinge pelo menos 60 mil pessoas do mesmo sexo que vivem juntas no país, de acordo com dados do Censo 2010. O número representa 0,2% do total de cônjuges em toda a nação.

A Igreja Católica reagiu contra a decisão, pois defende a família como uma relação constituída por pessoas de sexos opostos. Entidades ligadas aos direitos homossexuais comemoraram o resultado como um avanço social e de cidadania.

A discussão dos ministros se deu em torno da interpretação do artigo 1.723 do Código Civil. O artigo diz que: "É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família."

Segundo os magistrados, o Código deve ser interpretado conforme o artigo 3º. , inciso IV, da Constituição Federal. A Carta afirma que é objetivo da República "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".

O que os ministros do STF fizeram foi estender os direitos previstos na legislação para casais gays em uniões estáveis. Eles devem, a partir de agora, ser reconhecidos como "entidade familiar". A decisão do Supremo foi unânime.

"Por que o homossexual não pode constituir uma família" Por força de duas questões que são abominadas pela Constituição: a intolerância e o preconceito?, disse o ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso.

O STF foi provocado por duas ações distintas, uma proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e outra pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).

Casamento

Antes do pronunciamento do Supremo, homossexuais tinham que entrar com ações na Justiça para terem seus direitos civis reconhecidos como casais. Ficavam, dessa forma, sujeitos ao entendimento do juiz da comarca.

Hoje, se um casal gay recorrer à Justiça, provavelmente irá ganhar a causa. Isso porque a decisão do Supremo foi vinculante, o que significa que os juízes de instâncias inferiores deverão seguir o que os ministros deliberaram sobre o assunto.

No entanto, para que a concessão dos benefícios seja automática, será preciso que o Congresso vote leis específicas. É o caso da adoção de crianças, por exemplo, que pode ser mais difícil de conseguir, pois não houve uma definição sobre este tema no julgamento do STF.

O casamento civil será outro desafio: nenhum cartório é obrigado a casar pessoas do mesmo sexo. E, mesmo que o casal entre com um processo civil, a determinação da Corte pode não se aplicar neste caso. O motivo é que os magistrados reconheceram a união estável (convivência entre duas pessoas sem registro jurídico), não o casamento civil.

Na Câmara dos Deputados em Brasília tramitam oito projetos de lei relacionados à união homossexual, entre eles a regularização do casamento civil. Em geral, esses projetos ficam anos parados, porque o tema é polêmico e os políticos temem contrariar seu eleitorado. Um exemplo é o Projeto de Lei Complementar (PLC) 122, de criminalização da homofobia, que tramita há anos no Legislativo.

O julgamento do Supremo, porém, deve abrir caminho para a votação desses projetos de lei, ao mesmo tempo em que dificultará a aprovação de outros, restritivos aos direitos dos homossexuais. Mesmo que uma lei que vete a adoção de filhos por gays seja aprovada no Congresso, por exemplo, seria hoje considerada inconstitucional.

Argentina

Em julho do ano passado, a presidente argentina Cristina Kirchner promulgou uma lei que permite o casamento de homossexuais. A Argentina foi o primeiro país na América Latina (o segundo no continente depois do Canadá) e o décimo no mundo a legalizar a união entre pessoas do mesmo sexo.

Outros nove países possuem leis específicas sobre casamento homossexual válidas para todo território nacional: Holanda, Espanha, Bélgica, África do Sul, Canadá, Noruega, Suécia, Portugal e Islândia.

Na América do Sul, países como o Uruguai e Colômbia somente autorizam as uniões civis de casais gays, sem reconhecer direitos e deveres jurídicos. Nos Estados Unidos, seis estados permitem o casamento homossexual: Massachusetts, Connecticut, Iowa,Vermont, New Hampshire e Washington. A Cidade do México também aprovou uma lei semelhante em 2010.